BRASÍLIA — Um cruzamento de datas reforça as suspeitas de irregularidades em negócios firmados pelo governo com a empresa de logística VTC Log, investigada pela CPI da Covid. Boletos de pagamento emitidos pela agência de viagens Voetur Turismo em nome do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias começaram a ser quitados 11 dias depois de uma manobra que transferiu um contrato milionário da VTC Log para a área que ele comandava na pasta. A Voetur Turismo e a VTC Log pertencem ao mesmo grupo empresarial.
A CPI afirma ainda que os pagamentos dos boletos em nome de Dias foram feitos pela VTC Log. O depoimento ontem de Ivanildo Gonçalves da Silva, que trabalha como motoboy para a VTC Log, reforçou as suspeitas. Ele confirmou à CPI que realizou diversos saques de altas quantias a mando da empresa. O maior deles foi de aproximadamente R$ 400 mil. A comissão já havia mostrado na terça-feira que idas de Ivanildo a agências bancárias para realizar os saques coincidem com as datas de pagamentos dos boletos de Dias. Ontem, a CPI decidiu quebrar o sigilo fiscar de Ivanildo.
A transferência do contrato da VTC Log para o guarda-chuva de Dias aconteceu no dia 7 de maio. A quitação da primeira fatura em nome do ex-diretor ocorreu no dia 18 do mesmo mês. Os boletos em questão não especificam a quais serviços prestados pela Voetur eles se referem. A CPI investiga se Dias recebeu itens como passagens ou pacote de viagens para beneficiar a empresa.
Na matéria completa, exclusiva para assinantes, entenda como Polícia Federal, que auxilia os trabalhos da CPI, identificou nove boletos da Voetur Turismo no nome de Dias, sinalizando que ele seria o beneficiário dos serviços. Todos foram quitados entre 18 de maio e 6 de julho, mas em nenhum dos casos o pagamento saiu da conta do ex-diretor.