As sucessivas decretações da legalidade do crime no Brasil não vem inocentando apenas quem rouba, corrompe e até mata por meio do vírus da Covid-19. A nova onda de impunidade também pode livrar a cara de quem apalpa, encoxa, humilha e importuna verbalmente mulheres. O que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) abriu outro precedente estarrecedor da parte dessa gente que acha que pode tudo. O deputado estadual que importunou sexualmente uma colega em plenário, em frente à presidência da casa, como mostra o vídeo com a cena escandalosa, não será cassado e nem mesmo ter o mandato suspenso por seis meses, como recomendou suavemente o relator da “Conselho de Ética” que analisou o caso. O colegiado diminuiu a punição que já seria branda para uma espécie de férias prolongadas: 119 dias de suspensão do mandato.
O deputado importunador chama-se Fernando Cury e pertence aos quadros do Cidadania, nome que rima com “ironia”. A deputada importunada é Isa Penna, do PSOL. Ao ser informada sobre a decisão do “Conselho de Ética”, ela declarou que se tratava de decisão “inaceitável”. Disse a deputada ao Estadão:
“Abre a porta para os assediadores. É um recado principalmente para quem assedia. É a legalização do assédio. É um rito que abre um precedente que é político, mas também é jurídico. Abre um precedente para um aprofundamento, um avanço ainda maior dessa cultura do assédio. Não é qualquer coisa o que aconteceu hoje. Isso mancha a história da Assembleia Legislativa.”